sábado, 21 de maio de 2011

Muito mais do que um filme sobre cigarros...


Não é exatamente uma sinopse e, sim, uma análise feita com base em estudos de Psicologia Social, analisando comportamento, discursos, posturas e feedbacks exercidos e recebidos por alguns personagens do filme.

Obrigado por fumar é um filme do gênero comédia e conta a história de Nick Naylor – interpretado por Aaron Eckart - um lobista da Indústria Americana do Tabaco que possui uma missão não muito aceita pela sociedade: ele é o responsável por colocar na cabeça das pessoas que fumar é algo interessante e que deve ser um hábito diário. Divido entre esse dever e a responsabilidade de criar uma criança longe desse tipo de vício, Nick se vê em uma situação complicada à medida que seu filho passa a se interessar pelo seu trabalho e questionar seu comportamento.

Um bom exemplo de “verdade com desamor”, seria o fato de Nick, a qualquer custo, precisar convencer o maior número de pessoas que o cigarro deve ser considerado como algo comum, não como uma droga que deve ser repelida ou evitada, mesmo que, grande parte das pessoas, seja contra e se sinta grosseiramente afetada ao tipo de discurso do qual ele faz uso para persuadir futuros consumidores do seu produto. No entanto, ainda que possa parecer estranho existir alguém que seja a favor desse tipo de vício, seus argumentos são totalmente embasados e consistentes por meio de pesquisas e estudos feitos não apenas por eles, como por toda a indústria da qual é porta-voz. E é com essa base que ele combate seus oponentes, os fazendo refletir que para falar sobre um assunto, é preciso entender sobre ele.

Quando vai até a escola e é questionado por uma colega de turma de seu filho, sobre o fato de sua mãe ter dito a simples frase: “O cigarro mata”, Nick põe todos a pensar: “Por que ela disse isso? Com base em quê? Ela estudou para saber que o cigarro mata?” e aos poucos, vai criando essas indagações na consciência social.

O que o difere do Senador Finistirre – interpretado por William H. Macy – que usa dos argumentos mais baixos e, se assim pode-se dizer, infelizes para combater o discurso de Nick, expondo pessoas que sofrem de câncer causado pelo tabaco simplesmente a fim de causar impacto naqueles a quem chega o discurso de seu “adversário” e mostrar o quão maléfico é o cigarro, mesmo que não tenha como sustentar sua tese de forma não-apelativa e sim, fundamentada. O que seria um exemplo de “mentira com desamor”.

Porém, no momento em que Nick faz um pronunciamento em pleno senado americano, todo esse marketing-terrorista (expressão para sintetizar as ações do Senador) cai por terra. De forma altamente segura, o lobista argumenta que os queijos produzidos na região de Vermont (região de onde vem o Senador) matam muito mais pessoas, por via do colesterol, que os cigarros da indústria que ele representa. E mais, apresenta o frio, porém lógico, pensamento dos que são pró-tabaco: Qual seria o interesse da indústria do tabaco em produzir algo que faça mal e até mate seus usuários, se isso significaria perder um cliente? Absolutamente abalado, argumentativamente falando, o Senador não tem como combater essa “fala” e fica impossibilitado de formular qualquer resposta.

Bem além de exercer sua função de apresentar o cigarro como algo não-maléfico, Naylor defende a liberdade de escolhas e diz que antes de imporem a proibição dos cigarros (como Finistirre tenta fazer que eles sejam retirados dos filmes e substituídos por objeto comuns nas mãos dos atores), criticarem os fumantes e fazerem campanhas para diminuir o número deles; devem deixar que o indivíduo decida por si só se será ou não usuário do tabaco.

Ele se mostra incomodado com as restrições do governo sobre as pessoas e prega que elas devem ser as únicas responsáveis por escolher seus próprios caminhos. Defende assim, a tese de que não deve haver imposições e que nada deve interferir nos direitos das pessoas em decidir o que usar, vestir, consumir e usufruir.

Em primeiro plano, pode-se pensar que o lobista busca impor a sua verdade, no entanto, a ideia não é convencer os outros de que ele está certo e, sim, de que seus adversários estão errados – anseio que fica totalmente expresso em uma fala do protagonista. Ele se coloca na função de trabalhar a subjetividade dos indivíduos, os fazendo entender que para discutir, debater, retrucar, comentar, falar sobre qualquer assunto, é necessário terem um conhecimento mínimo sobre tal, para assim, ter onde basear seus argumentos e estruturar seus posicionamentos.

Sem dúvidas o filme é uma boa opção de entretenimento, mas também nos faz refletir sobre os julgamentos que fazemos, até mesmo insconscientemente.