terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ousadia, sorte e uma dose de fama

Na era digital em que vivemos, é praticamente impossível não ser atraído pelas tecnologias avançadas e por esse meio de comunicação tão preciso e em tempo real. Quando pensamos em tecnologia, um dos primeiros exemplos que nos vem à mente é a internet e, ao falar de vantagens, rapidamente destacamos o fato de ela encurtar distâncias. Sim, essas características estão corretas, porém, a internet abrange muito mais do que isso.

Além de poder ser usada como uma plataforma de negócios (sites de compras, de empresas), para fins educativos (sites de escolas/cursos, bibliotecas online), institucionais, socioambientais e pelo fácil acesso a todo e qualquer tipo de assunto; para o mundo do entretenimento, a internet se tornou uma grande vitrine. Antigamente, talento, muita dedicação, esforço e até doses de sacrifícios eram a receita para a fama. Hoje em dia, basta ter certa coragem - ou “cara de pau” - e sorte de ser visto. Prova disso, são as chamadas “celebridades da internet”, que ficam famosas por conta de vídeos postados na rede que, instantânea e inesperadamente, somam uma grande quantidade de visualizações e se tornam verdadeiros fenômenos do mundo virtual.

Como exemplo dessas pessoas surpreendidas pela fama, a estudante cearense, de 19 anos, Camilla Bezerra Dantas – mais conhecida como Camilla Uckers - se tornou um sucesso da internet por conta do video “RDB NÃO é RBD...Entendeu Site Ego?”, onde expressou sua indignação com o erro cometido por um site de entretenimento que errou o nome da sua banda favorita, o grupo mexicano, RBD. “Agi mais por impulso, estava com muita raiva depois que li uma matéria no site Ego, onde erraram o nome da banda da qual eu sou fã e resolvi gravar um vídeo para mostrar a minha indignação e explicar para os estagiários do site que o nome da banda era RBD e não RDB”, diz ela.

A revolta da cearense foi vista mais de 700 mil vezes e não foi só a personagem que ficou famosa, “Safadeza Oculta” – expressão que ela usa durante o video – por ser algo, até então, nunca falado, caiu rapidamente no gosto do público e ficou quase 20 dias entre os assuntos mais comentados do Brasil - sendo 10 dias também entre os mais comentados no mundo - pelo twitter. Sobre o significado da expressão, conta: “Saiu na hora, não tem muita explicação sobre esse termo, na verdade, foi algo que eu jamais tinha falado e até pensei em cortar na edição, mas resolvi deixar, depois de pensar muito sobre o que seria safadeza oculta”.

De caso pensado ou não, o protesto da fã teve resultado: horas depois do video ter sido lançado, o site corrigiu o erro e, sobre isso, ela comenta: “Acho que foi a forma mais correta, pois um site de tão grande porte não pode cometer um erro desses, revisar o texto antes de ser publicado é o mínimo que devem fazer. Fiquei feliz por terem visto, pois depois desse vídeo as quatro matérias em que o nome da banda estava errado, foram corrigidas”.

Mas o que a deixou realmente feliz não foi toda essa repercussão mundial, a fama que conquistou, e sim, por ter conseguido a atenção de uma pessoa em especial, Christopher Uckermann, ex-integrante do grupo RBD e seu maior ídolo – motivo que a levou a continuar fazendo vídeos.

Eu fiquei super feliz mesmo quando o empresário dele postou o meu vídeo no twitter e depois vi que várias pessoas de sua produção estavam postando links e comentando sobre algumas entrevistas minhas. Esse vídeo me deu a esperança de ser reconhecida pelo o meu ídolo, depois disso, nunca mais parei de gravar.

No início foi complicado lidar com essa fama inesperada, Camilla confessa que chegou a ter medo de sair de casa por conta daqueles que não gostaram do video e postavam comentários maldosos e que ficou sem ir à escola, porém, depois de algumas semanas tudo voltou ao normal. “Ao normal” na medida do possível, pois, ainda que não houvesse mais o medo de sair, a fama já estava ali e seus frutos começaram a aparecer. Por conta da “safadeza oculta”, recebeu propostas de trabalho e as portas do mundo do entretenimento começaram a se abrir para ela. Trabalhou por quatro meses como locutora esportiva em uma rádio da sua cidade, participou de programas de TV, como o programa da Eliana (do SBT) que é de alcance nacional, concedeu entrevistas para emissoras como a MTV, além de ser convidada como presença vip em festas e boates.

Como a fama vem de maneira repentina, tais celebridades têm dificuldade de se manter na mídia durante muito tempo, muitas vezes voltando ao anonimato da mesma maneira que saíram dele. Para evitar isso, Camilla se aventurou no universo musical, chegou a gravar uma música – titulada “Não quero mais” – mas não pretende focar nessa carreira. “Eu quis aproveitar a fama para tentar ingressar na carreira artística, mas é algo muito difícil. Fiz aulas de canto por um ano, para poder gravar em um estúdio, mas acredito que o meu dom não seja o de cantar e, sim, de trabalhar na TV, fazendo as pessoas rirem. A gravação dessa música foi apenas uma experiência que eu quis ter”.

Diferente dela, que pretende seguir uma carreira artística fora da música, grandes nomes do cenário musical atual, foram descobertos na internet como, por exemplo, Justin Bieber. Há quem não saiba, mas sua fama não surgiu de nada mais do que um golpe de sorte. Um menino – hoje com 17 anos – postava vídeos em que estava cantando e, certo dia, foi visto por Usher - cantor, ator, dançarino e produtor – já conhecido no ambiente musical e que se interessou em produzi-lo. Hoje, Justin é fenômeno do pop mundial e um dos maiores motivos de delírios das adolescentes de todos os países, lota estádios, vende milhões de CDs e tudo que faz tem grande repercussão.

Camilla Uckers e Justin Bieber estão em patamares bem distantes, porém, o lugar de onde surgiram é o mesmo: a rede. Eles são exemplos que ilustram a tese de que a internet é uma grande vitrine e quem tiver sorte, consegue levar a fama desse universo virtual para o mundo real. E não há como falar de “mundo virtual” sem mencionar as redes sociais que são as principais responsáveis pela rapidez com que tudo é divulgado e é interessante ver como, coisas das mais simples, como a expressão “safadeza oculta” ou “pôneis malditos” (bordão criado por uma empresa automobilística, usado em um de seus comerciais, também de grande repercussão) caem de maneira quase que instantânea no gosto do público, o poder de disseminação dessas redes é, praticamente, incontestável.