quinta-feira, 30 de junho de 2011

Malandro, o jeitinho brasileiro!

Série de 3 textos que compõem uma análise crítica do livro Carnavais, malandros e heróis, de Roberto DaMatta e enfatizam as temáticas do jeitinho brasileiro, a figura no malandro, a imagem do herói e o famoso bordão "você sabe com quem está falando?".

Dizem que somos todos iguais perante a lei, mas será que isso realmente procede? Em um momento em que ela precisa entrar em vigor, muitas vezes nos deparamos com o status pessoal ou com a tentativa do envolvido, de “driblar” a situação. É o famoso “jeitinho brasileiro”.
A possibilidade de agir como malandro se dá em todos os lugares. Mas há uma área onde certamente ela é privilegiada. Quero referir-me à região do prazer e da sensualidade, zona onde o malandro é o concretizador da boêmia e o sujeito especial da boa vida. Aquela existência que permite desejar o máximo de prazer e bem-estar, com um mínimo de trabalho e esforço. (...) É um papel social que está à nossa disposição para ser vivido no momento em que acharmos que a lei pode ser esquecida ou até mesmo burlada com certa classe ou jeito. (DAMATTA, 1984. p.103)
Muitos são os poderosos - sejam empresários, políticos ou traficantes - que negociam sua impunidade em troca de favores e propinas àqueles que deveriam fiscalizá-los. Basta fugir de um flagrante, ou usar seu 'poderoso nome' para tornar o processo flexível a ponto de não se juntar provas incriminatórias em tempo hábil, o que leva ao arquivamento do caso, exemplo claro de que o jeitinho realmente funciona.

A estratégia utilizada é sempre envolver emocionalmente no seu problema, a pessoa de quem se depende naquele momento. Para isso, procura-se apelar para os bons sentimentos, a boa vontade e a compreensão daquele de quem você precisa na situação.

Para personificar esse costume, temos a figura do malandro. Embora o jeitinho seja usado por toda a sociedade brasileira o personagem do malandro é um usuário típico desse hábito que burla a legislação. Por esse motivo que o sinônimo mais comum de jeitinho é malandragem.

A malandragem, então, seria o modo profissional de botar o jeitinho em prática, e o malandro seria seu expert, uma espécie de profissional em levar uma boa vida, usando sempre a malandragem para atingir seus objetivos e conseguir privilégios. Mas esta malandragem não seria violenta, mas sim um modo elegante, simpático e, principalmente, sutil de passar a perna nos outros, usando a lábia e a sedução ao invés de ameaça e violência.

No entanto, não seria equivocado dizer que sempre tentamos corromper os outros, pois convencer alguém a fazer ou dizer algo em seu benefício é mais comum do que podemos perceber. Por exemplo, o brasileiro tem a mania de dizer e questionar (o que é seu direito) sobre os atos de nossos governantes quando se diz respeito à corrupção, porém, quando esse mesmo cidadão vai ao banco e vê aquela fila imensa ela sempre “dá um jeitinho” de furar a fila, seja entrando nas filas especiais para idosos ou de alguma outra foma, mesmo ele estando em plena saúde de seus 30 e poucos anos. Isso não seria também uma forma de corrupção?

DaMatta diz que grandes coisas boas e horríveis acontecem graças ao jeitinho, e graças a este costume, o brasileiro consegue levar a vida ganhando pouco dinheiro e respeito, graças a ele muitas obras de arte são tomam formas, mas é também no jeitinho que está a raiz da corrupção dos políticos.

Sem dúvida para nós, brasileiros, é importante e vital compreendermos melhor o que “faz o Brasil, Brasil” e como a lógica que rege os mecanismos da nossa sociedade abre possibilidades de mudança e de renovação, sem contrariar aquilo que é próprio da nossa natureza, mas explorando a generosidade e os desafios que a nossa natureza mista, imprecisa, intermediária, incerta e complexa nos coloca.

Contrária a imagem do malandro temos o herói. O mito do super-herói satisfaz as nostalgias secretas de muitos cidadãos brasileiros que, diante de tantos conflitos e da eterna insatisfação com a realidade, sonham encontrar um dia uma "personagem excepcional", um "herói" que irá pôr fim ao sofrimento, à violência, ao medo, ao desemprego, à fome entre outros problemas.

...no próximo texto, a imagem do herói.