terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ousadia, sorte e uma dose de fama

Na era digital em que vivemos, é praticamente impossível não ser atraído pelas tecnologias avançadas e por esse meio de comunicação tão preciso e em tempo real. Quando pensamos em tecnologia, um dos primeiros exemplos que nos vem à mente é a internet e, ao falar de vantagens, rapidamente destacamos o fato de ela encurtar distâncias. Sim, essas características estão corretas, porém, a internet abrange muito mais do que isso.

Além de poder ser usada como uma plataforma de negócios (sites de compras, de empresas), para fins educativos (sites de escolas/cursos, bibliotecas online), institucionais, socioambientais e pelo fácil acesso a todo e qualquer tipo de assunto; para o mundo do entretenimento, a internet se tornou uma grande vitrine. Antigamente, talento, muita dedicação, esforço e até doses de sacrifícios eram a receita para a fama. Hoje em dia, basta ter certa coragem - ou “cara de pau” - e sorte de ser visto. Prova disso, são as chamadas “celebridades da internet”, que ficam famosas por conta de vídeos postados na rede que, instantânea e inesperadamente, somam uma grande quantidade de visualizações e se tornam verdadeiros fenômenos do mundo virtual.

Como exemplo dessas pessoas surpreendidas pela fama, a estudante cearense, de 19 anos, Camilla Bezerra Dantas – mais conhecida como Camilla Uckers - se tornou um sucesso da internet por conta do video “RDB NÃO é RBD...Entendeu Site Ego?”, onde expressou sua indignação com o erro cometido por um site de entretenimento que errou o nome da sua banda favorita, o grupo mexicano, RBD. “Agi mais por impulso, estava com muita raiva depois que li uma matéria no site Ego, onde erraram o nome da banda da qual eu sou fã e resolvi gravar um vídeo para mostrar a minha indignação e explicar para os estagiários do site que o nome da banda era RBD e não RDB”, diz ela.

A revolta da cearense foi vista mais de 700 mil vezes e não foi só a personagem que ficou famosa, “Safadeza Oculta” – expressão que ela usa durante o video – por ser algo, até então, nunca falado, caiu rapidamente no gosto do público e ficou quase 20 dias entre os assuntos mais comentados do Brasil - sendo 10 dias também entre os mais comentados no mundo - pelo twitter. Sobre o significado da expressão, conta: “Saiu na hora, não tem muita explicação sobre esse termo, na verdade, foi algo que eu jamais tinha falado e até pensei em cortar na edição, mas resolvi deixar, depois de pensar muito sobre o que seria safadeza oculta”.

De caso pensado ou não, o protesto da fã teve resultado: horas depois do video ter sido lançado, o site corrigiu o erro e, sobre isso, ela comenta: “Acho que foi a forma mais correta, pois um site de tão grande porte não pode cometer um erro desses, revisar o texto antes de ser publicado é o mínimo que devem fazer. Fiquei feliz por terem visto, pois depois desse vídeo as quatro matérias em que o nome da banda estava errado, foram corrigidas”.

Mas o que a deixou realmente feliz não foi toda essa repercussão mundial, a fama que conquistou, e sim, por ter conseguido a atenção de uma pessoa em especial, Christopher Uckermann, ex-integrante do grupo RBD e seu maior ídolo – motivo que a levou a continuar fazendo vídeos.

Eu fiquei super feliz mesmo quando o empresário dele postou o meu vídeo no twitter e depois vi que várias pessoas de sua produção estavam postando links e comentando sobre algumas entrevistas minhas. Esse vídeo me deu a esperança de ser reconhecida pelo o meu ídolo, depois disso, nunca mais parei de gravar.

No início foi complicado lidar com essa fama inesperada, Camilla confessa que chegou a ter medo de sair de casa por conta daqueles que não gostaram do video e postavam comentários maldosos e que ficou sem ir à escola, porém, depois de algumas semanas tudo voltou ao normal. “Ao normal” na medida do possível, pois, ainda que não houvesse mais o medo de sair, a fama já estava ali e seus frutos começaram a aparecer. Por conta da “safadeza oculta”, recebeu propostas de trabalho e as portas do mundo do entretenimento começaram a se abrir para ela. Trabalhou por quatro meses como locutora esportiva em uma rádio da sua cidade, participou de programas de TV, como o programa da Eliana (do SBT) que é de alcance nacional, concedeu entrevistas para emissoras como a MTV, além de ser convidada como presença vip em festas e boates.

Como a fama vem de maneira repentina, tais celebridades têm dificuldade de se manter na mídia durante muito tempo, muitas vezes voltando ao anonimato da mesma maneira que saíram dele. Para evitar isso, Camilla se aventurou no universo musical, chegou a gravar uma música – titulada “Não quero mais” – mas não pretende focar nessa carreira. “Eu quis aproveitar a fama para tentar ingressar na carreira artística, mas é algo muito difícil. Fiz aulas de canto por um ano, para poder gravar em um estúdio, mas acredito que o meu dom não seja o de cantar e, sim, de trabalhar na TV, fazendo as pessoas rirem. A gravação dessa música foi apenas uma experiência que eu quis ter”.

Diferente dela, que pretende seguir uma carreira artística fora da música, grandes nomes do cenário musical atual, foram descobertos na internet como, por exemplo, Justin Bieber. Há quem não saiba, mas sua fama não surgiu de nada mais do que um golpe de sorte. Um menino – hoje com 17 anos – postava vídeos em que estava cantando e, certo dia, foi visto por Usher - cantor, ator, dançarino e produtor – já conhecido no ambiente musical e que se interessou em produzi-lo. Hoje, Justin é fenômeno do pop mundial e um dos maiores motivos de delírios das adolescentes de todos os países, lota estádios, vende milhões de CDs e tudo que faz tem grande repercussão.

Camilla Uckers e Justin Bieber estão em patamares bem distantes, porém, o lugar de onde surgiram é o mesmo: a rede. Eles são exemplos que ilustram a tese de que a internet é uma grande vitrine e quem tiver sorte, consegue levar a fama desse universo virtual para o mundo real. E não há como falar de “mundo virtual” sem mencionar as redes sociais que são as principais responsáveis pela rapidez com que tudo é divulgado e é interessante ver como, coisas das mais simples, como a expressão “safadeza oculta” ou “pôneis malditos” (bordão criado por uma empresa automobilística, usado em um de seus comerciais, também de grande repercussão) caem de maneira quase que instantânea no gosto do público, o poder de disseminação dessas redes é, praticamente, incontestável.

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Você sabe com quem está falando?"

Última parte da série de 3 textos que compõem uma análise crítica do livro Carnavais, malandros e heróis, de Roberto DaMatta. Abordamos aqui a o uso do famoso bordão "você sabe com quem está falando?" e o ato da "carteirada", a necessidade de se rebaixar o outro para representar uma ilusória superioridade.



Vários problemas sociais brasileiros têm sua origem no fato do brasileiro não se enxergar como indivíduo, trazendo o comportamento da casa para a rua. Assim, quando alguém diz “Você sabe com quem está falando?”, não só está se colocando como pessoa, única, especial, mas reduzindo o interlocutor a um indivíduo, alguém menos importante, apenas mais um na multidão.

Quem nunca presenciou um ato explícito de deseducação e autoritarismo? Quantas vezes, por exemplo, os freqüentadores de bares e restaurantes humilham garçons e atendentes como se eles fossem trabalhadores marginais e a ralé da sociedade? A prepotência não encontra limites. Repetidas vezes os arrogantes protagonizam situações absurdas nas quais escancaram fraquezas, para a indignação ou mesmo divertimento de quem as presencia.

Como também exemplo do uso dessa expressão: Não é difícil nos deparamos com operações realizadas pelos guardas municipais, as famosas “blitz de trânsito”, com o objetivo de fiscalizar os documentos dos veículos que estão circulando e a habilitação de seus motoristas, com o intuito de se fazer cumprir as leis de trânsito. Previsivelmente e infelizmente, acontece o famoso, inaceitável e covarde “você sabe com quem está falando?”, mais conhecido como “carteirada”.

Esta forma de comportamento é o que melhor comprova nossa estrutura social hierarquizada, onde alguns que possuem “carteira” de delegado, procurador, juiz, desembargador, deputado, prefeito, vereador, médico, advogado, dentista, diretor de universidade, simples elitistas que pertencem a famílias tradicionais e muitos outros, impõem sua surreal “supremacia” sobre os cidadãos normais, os únicos em que a igualdade formal, prevista na Constituição, é realmente aplicada.

É de se destacar o trabalho de servidores como os muitos guardas municipais de trânsito e policiais que vencem muitos obstáculos para exercer suas funções, devendo receber a admiração da sociedade, mas acima de tudo, nosso respeito. Respeito este que não encontramos, por exemplo, no comportamento de muitos jovens (a “carteirada” não vem só das autoridades) que encaram as autoridades responsáveis pela segurança de nossas cidades como inimigo ou até mesmo como subalternos. Não é raro nos depararmos com jovens, principalmente de classe média e alta, passando por cima das leis e das autoridades que por elas zelam.

Já está mais do que na hora de dar um basta a tanta hipocrisia, não cabe, por exemplo, a uma autoridade do alto escalão se sobrepor à lei, cabe sim respeitá-la e servir de modelo para que o país passe da ilegalidade para a normalidade constitucional. Além de crescimento econômico e social, devemos saber que tudo passa por uma mudança interna, pessoal e consciente, pequenas atitudes podem trazer grandes mudanças. Devemos fazer um pacto pela legalidade, onde saibamos contrabalançar nossos deveres com os nossos direitos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A imagem do herói

Parte 2 da série de 3 textos que compõem uma análise crítica do livro Carnavais, malandros e heróis, de Roberto DaMatta. Abordamos aqui a temática do herói, a necessidade de se criar e cultuar uma imagem como essa.


A imagem de uma pessoa com ideais humanitários aliados a princípios nobres, como a coragem e a solidariedade, transmitida por um herói desperta a esperança da mudança da realidade. Há quem viva na espera daqueles poderosos que irão lutar pelo bem comum, propiciando a ela condições de vida mais dignas, como um sistema de saúde público de qualidade e oportunidade de estudo e de crescimento profissional, frutos de políticas sociais eficientes comandadas por autoridades honestas e empenhadas.

A violência, fruto principal das divergências sociais, atinge ricos e pobres. Milhões de inocentes não seriam vítimas de balas perdidas, seqüestros relâmpagos, exploração infantil, guerras do tráfico e outras barbaridades se existissem aqueles que zelassem por sua segurança, por combaterem fortemente a injustiça e a impunidade, inclusive a dos políticos.

Diante do contexto atual brasileiro, a idealização de heróis é essencial para acreditar-se em mudanças efetivas. Mas deve-se acautelar para não confundi-los com pseudo-heróis, que por detrás da mascara de defensores da nação, só enxergam seus próprios interesses. Às crianças, que constroem suas personalidades espelhando-se em adultos, o princípio de solidariedade deve ser ensinado, porque são elas os possíveis heróis do futuro. Um Super-Herói é um mais que um entretenimento para uma criança, ele é um exemplo. Se ela entende o valor do ato heróico e do "bem", ela estará se posicionando no mundo como alguém que não fechará os olhos às coisas erradas. Ela crescerá com os olhos mais 'justos' e a seu modo fará a diferença.

... no próximo (e último) texto baseado nesta obra de Da Matta, falaremos do famoso bordão "você sabe com quem está falando?"

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Malandro, o jeitinho brasileiro!

Série de 3 textos que compõem uma análise crítica do livro Carnavais, malandros e heróis, de Roberto DaMatta e enfatizam as temáticas do jeitinho brasileiro, a figura no malandro, a imagem do herói e o famoso bordão "você sabe com quem está falando?".

Dizem que somos todos iguais perante a lei, mas será que isso realmente procede? Em um momento em que ela precisa entrar em vigor, muitas vezes nos deparamos com o status pessoal ou com a tentativa do envolvido, de “driblar” a situação. É o famoso “jeitinho brasileiro”.
A possibilidade de agir como malandro se dá em todos os lugares. Mas há uma área onde certamente ela é privilegiada. Quero referir-me à região do prazer e da sensualidade, zona onde o malandro é o concretizador da boêmia e o sujeito especial da boa vida. Aquela existência que permite desejar o máximo de prazer e bem-estar, com um mínimo de trabalho e esforço. (...) É um papel social que está à nossa disposição para ser vivido no momento em que acharmos que a lei pode ser esquecida ou até mesmo burlada com certa classe ou jeito. (DAMATTA, 1984. p.103)
Muitos são os poderosos - sejam empresários, políticos ou traficantes - que negociam sua impunidade em troca de favores e propinas àqueles que deveriam fiscalizá-los. Basta fugir de um flagrante, ou usar seu 'poderoso nome' para tornar o processo flexível a ponto de não se juntar provas incriminatórias em tempo hábil, o que leva ao arquivamento do caso, exemplo claro de que o jeitinho realmente funciona.

A estratégia utilizada é sempre envolver emocionalmente no seu problema, a pessoa de quem se depende naquele momento. Para isso, procura-se apelar para os bons sentimentos, a boa vontade e a compreensão daquele de quem você precisa na situação.

Para personificar esse costume, temos a figura do malandro. Embora o jeitinho seja usado por toda a sociedade brasileira o personagem do malandro é um usuário típico desse hábito que burla a legislação. Por esse motivo que o sinônimo mais comum de jeitinho é malandragem.

A malandragem, então, seria o modo profissional de botar o jeitinho em prática, e o malandro seria seu expert, uma espécie de profissional em levar uma boa vida, usando sempre a malandragem para atingir seus objetivos e conseguir privilégios. Mas esta malandragem não seria violenta, mas sim um modo elegante, simpático e, principalmente, sutil de passar a perna nos outros, usando a lábia e a sedução ao invés de ameaça e violência.

No entanto, não seria equivocado dizer que sempre tentamos corromper os outros, pois convencer alguém a fazer ou dizer algo em seu benefício é mais comum do que podemos perceber. Por exemplo, o brasileiro tem a mania de dizer e questionar (o que é seu direito) sobre os atos de nossos governantes quando se diz respeito à corrupção, porém, quando esse mesmo cidadão vai ao banco e vê aquela fila imensa ela sempre “dá um jeitinho” de furar a fila, seja entrando nas filas especiais para idosos ou de alguma outra foma, mesmo ele estando em plena saúde de seus 30 e poucos anos. Isso não seria também uma forma de corrupção?

DaMatta diz que grandes coisas boas e horríveis acontecem graças ao jeitinho, e graças a este costume, o brasileiro consegue levar a vida ganhando pouco dinheiro e respeito, graças a ele muitas obras de arte são tomam formas, mas é também no jeitinho que está a raiz da corrupção dos políticos.

Sem dúvida para nós, brasileiros, é importante e vital compreendermos melhor o que “faz o Brasil, Brasil” e como a lógica que rege os mecanismos da nossa sociedade abre possibilidades de mudança e de renovação, sem contrariar aquilo que é próprio da nossa natureza, mas explorando a generosidade e os desafios que a nossa natureza mista, imprecisa, intermediária, incerta e complexa nos coloca.

Contrária a imagem do malandro temos o herói. O mito do super-herói satisfaz as nostalgias secretas de muitos cidadãos brasileiros que, diante de tantos conflitos e da eterna insatisfação com a realidade, sonham encontrar um dia uma "personagem excepcional", um "herói" que irá pôr fim ao sofrimento, à violência, ao medo, ao desemprego, à fome entre outros problemas.

...no próximo texto, a imagem do herói.

sábado, 21 de maio de 2011

Muito mais do que um filme sobre cigarros...


Não é exatamente uma sinopse e, sim, uma análise feita com base em estudos de Psicologia Social, analisando comportamento, discursos, posturas e feedbacks exercidos e recebidos por alguns personagens do filme.

Obrigado por fumar é um filme do gênero comédia e conta a história de Nick Naylor – interpretado por Aaron Eckart - um lobista da Indústria Americana do Tabaco que possui uma missão não muito aceita pela sociedade: ele é o responsável por colocar na cabeça das pessoas que fumar é algo interessante e que deve ser um hábito diário. Divido entre esse dever e a responsabilidade de criar uma criança longe desse tipo de vício, Nick se vê em uma situação complicada à medida que seu filho passa a se interessar pelo seu trabalho e questionar seu comportamento.

Um bom exemplo de “verdade com desamor”, seria o fato de Nick, a qualquer custo, precisar convencer o maior número de pessoas que o cigarro deve ser considerado como algo comum, não como uma droga que deve ser repelida ou evitada, mesmo que, grande parte das pessoas, seja contra e se sinta grosseiramente afetada ao tipo de discurso do qual ele faz uso para persuadir futuros consumidores do seu produto. No entanto, ainda que possa parecer estranho existir alguém que seja a favor desse tipo de vício, seus argumentos são totalmente embasados e consistentes por meio de pesquisas e estudos feitos não apenas por eles, como por toda a indústria da qual é porta-voz. E é com essa base que ele combate seus oponentes, os fazendo refletir que para falar sobre um assunto, é preciso entender sobre ele.

Quando vai até a escola e é questionado por uma colega de turma de seu filho, sobre o fato de sua mãe ter dito a simples frase: “O cigarro mata”, Nick põe todos a pensar: “Por que ela disse isso? Com base em quê? Ela estudou para saber que o cigarro mata?” e aos poucos, vai criando essas indagações na consciência social.

O que o difere do Senador Finistirre – interpretado por William H. Macy – que usa dos argumentos mais baixos e, se assim pode-se dizer, infelizes para combater o discurso de Nick, expondo pessoas que sofrem de câncer causado pelo tabaco simplesmente a fim de causar impacto naqueles a quem chega o discurso de seu “adversário” e mostrar o quão maléfico é o cigarro, mesmo que não tenha como sustentar sua tese de forma não-apelativa e sim, fundamentada. O que seria um exemplo de “mentira com desamor”.

Porém, no momento em que Nick faz um pronunciamento em pleno senado americano, todo esse marketing-terrorista (expressão para sintetizar as ações do Senador) cai por terra. De forma altamente segura, o lobista argumenta que os queijos produzidos na região de Vermont (região de onde vem o Senador) matam muito mais pessoas, por via do colesterol, que os cigarros da indústria que ele representa. E mais, apresenta o frio, porém lógico, pensamento dos que são pró-tabaco: Qual seria o interesse da indústria do tabaco em produzir algo que faça mal e até mate seus usuários, se isso significaria perder um cliente? Absolutamente abalado, argumentativamente falando, o Senador não tem como combater essa “fala” e fica impossibilitado de formular qualquer resposta.

Bem além de exercer sua função de apresentar o cigarro como algo não-maléfico, Naylor defende a liberdade de escolhas e diz que antes de imporem a proibição dos cigarros (como Finistirre tenta fazer que eles sejam retirados dos filmes e substituídos por objeto comuns nas mãos dos atores), criticarem os fumantes e fazerem campanhas para diminuir o número deles; devem deixar que o indivíduo decida por si só se será ou não usuário do tabaco.

Ele se mostra incomodado com as restrições do governo sobre as pessoas e prega que elas devem ser as únicas responsáveis por escolher seus próprios caminhos. Defende assim, a tese de que não deve haver imposições e que nada deve interferir nos direitos das pessoas em decidir o que usar, vestir, consumir e usufruir.

Em primeiro plano, pode-se pensar que o lobista busca impor a sua verdade, no entanto, a ideia não é convencer os outros de que ele está certo e, sim, de que seus adversários estão errados – anseio que fica totalmente expresso em uma fala do protagonista. Ele se coloca na função de trabalhar a subjetividade dos indivíduos, os fazendo entender que para discutir, debater, retrucar, comentar, falar sobre qualquer assunto, é necessário terem um conhecimento mínimo sobre tal, para assim, ter onde basear seus argumentos e estruturar seus posicionamentos.

Sem dúvidas o filme é uma boa opção de entretenimento, mas também nos faz refletir sobre os julgamentos que fazemos, até mesmo insconscientemente.

sábado, 9 de abril de 2011

Tamanha covardia, absurda insanidade

Terror é umas das diversas palavras que poderiam descrever o que aconteceu na manhã da última quinta-feira (7) quando Wellington Menezes de Oliveira – 24 anos – foi à Escola Municipal Tasso da Silveira (em Realengo), da qual era ex-aluno e, de maneira totalmente inesperada, efetuou disparos contra estudantes que assistiam às aulas.

Dentre todas as vertentes desse fato, muitas questões são formuladas em nossas cabeças. Por que ele fez isso? O que leva uma pessoa a ser fria a esse ponto? Alguém capaz de fazer isso pode ser considerado um ser humano? Há algo que justifique esse crime bárbaro? E as indagações não param de aparecer...

Analisando o perfil do criminoso, podemos constatar que ele, de fato, era alguém com sérios problemas de relacionamento. Era muito reservado, não tinha amigos ou namorada, não tinha o costume de sair de casa, era fanático por jogos de ação (dos mais sangrentos), “terrorismo” era o seu assunto favorito e, há quem diga que ele sofreu bullying na infância. Seria esse o motivo da chacina? Será por isso que o ataque foi contra crianças?

Além de extremamente covarde, julgo aterrorizante o fato de um ser humano – se é que assim podemos chamá-lo – ser sangue frio ao ponto entrar em uma escola e atirar em crianças sem qualquer motivo aparente. Ainda mais aterrorizante o fato de tudo isso ter sido premeditado, pois o assassino sabia exatamente o que/como/aonde/quando iria realizar o crime e estava muito bem equipado para isso.

Apesar de tudo, a atitude dos estudantes deve ser enaltecida, visto que todos tentaram se ajudar da melhor maneira possível, professores tentavam proteger seus alunos e amigos tentavam se defender como podiam. O que nos leva ao caso da menina Bianca Rocha Tavares – 13 anos – que se colocou na frente da bala para proteger sua melhor amiga e acabou morrendo em seu lugar.

Qual seria a punição para este crime? A morte dele foi justa? Em minha opinião, não! Pode parecer cruel, mas defendo a tese de que morte não é castigo para assassino e o sofrimento através da tortura é o que ele merece. Não concordo que ele seja julgado como um doente mental, pois ele tinha total noção do que queria, até mesmo do que desejava que fosse feito após a sua morte (que também estava em seus planos).

É impressionante como com o passar do tempo o amor entre as pessoas vai entrando em escassez, e chega ao ponto de se precisar assassinar crianças para satisfazer um desejo que existe por um motivo que jamais saberemos. A única certeza que temos é que o mais justo seria que ele não tivesse colocado em ação o suicídio, pois o único modo de trazer maior consolo para as famílias que sofreram perdas imensuráveis com esse ato desumano seria vê-lo pagando pelo que fez por meio da justiça, ainda que esta não diminua a dor das famílias dessas crianças assassinadas. Creio que a pena de prisão perpétua sujeita a torturas seria realmente o mais adequado para ele mas, já que sua morte foi consumada, apenas posso dar meus pêsames às famílias e torcer para que consigam se recuperar desse grande trauma.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A palavra de ordem é: CONSUMO

Pesquisa aponta brasileiros como um dos povos mais vaidosos do mundo

Em uma pesquisa feita pela MTV, com 2.359 jovens de sete capitais, foi provado que a juventude brasileira é bem exigente consigo mesmo quando o assunto é aparência. Calças caras, celulares de última geração, bolsas com preços altíssimos, além da fortuna paga com produtos de beleza e intervenções cirúrgicas, são alguns gastos que os jovens de hoje não abrem mão.

Na pesquisa, onde foram listados dezesseis adjetivos que poderiam definir a juventude atual, mais de 30% dos entrevistados apontou “vaidade” como característica básica, seguida por “consumo”.

"Não posso entrar em um shopping. Compro até acabar meu dinheiro. Tenho quinze pares de tênis, mais de 25 jaquetas e 37 calças jeans, embora só use cinco. Minha mãe fica louca. Ela é psicopedagoga, socialista, super ética. Nada perua. Eu sou consumista por mim e por ela”, diz Guilherme Salsarella, 18 anos, estudante de Arquitetura.

Há quem ache esse hábito de gastar compulsivamente, um grande absurdo, porém, especialistas como o publicitário Luiz Alberto Marinho – perito em tendências de consumo – afirmam que este tipo de comportamento é bastante normal: "O Brasil é uma nação emergente. Países nessa situação, assim como pessoas, tendem a valorizar ou exagerar hábitos de consumo, em especial os que denotam poder e riqueza".

Mas não são apenas os bens materiais que os jovens estão trocando com freqüência, dados da pesquisa mostram que 76% dos jovens já “ficaram” com mais de uma pessoa na mesma noite e que os namoros de hoje em dia, não duram tanto quanto os de antigamente. Na visão da psiquiatra Carmita Abdo, em síntese, o jovem deseja tudo que é novo e preza pela quantidade. "Esse tipo de comportamento reforça a constatação de que os jovens hoje têm uma ânsia muito grande pela novidade e, principalmente, pela quantidade", diz ela.

Mais do que um consumismo exacerbado, isso é uma prova clara de que um dos maiores anseios dos jovens é ter o “poder” da ostentação e não, que ele realmente precise de tudo aquilo que compra.

  • “Alguém tem que ceder”

Onde o consumismo deixa de ser um simples capricho e passa a ser um problema


E os pais? Como agir quando um filho pede, por exemplo, um casaco de 780,00? Dizer um “não” imediato seria a solução?

Para os que não têm condições, essa resposta é clara e evidente. Contudo, há também aqueles que têm capital para bancar esse tipo de luxo, ainda assim os pais devem ceder? Vale lembrar que o mundo é cheio de frustrações, e ceder a toda e qualquer vontade dos filhos, não é uma boa maneira de prepará-lo para encarar esse mundo.

"Corremos o risco de ter uma geração de pessoas ansiosas e insatisfeitas", explica a psicóloga Helena Lima. No entanto, o desejo de um jovem por algo pode não ser apenas para exibir, e sim, para que ele seja aceito em um determinado grupo. Na classe alta, isso é mais comum do que se imagina. Cabe a esses pais, verificar a real intenção do pedido e usar de seu discernimento para decidir se atende ou não.

Texto criado com base na matéria "Geração Vaidade" da revista VEJA.

terça-feira, 22 de março de 2011

O (fim do) mundo na telona

Catástrofes com data marcada, fenômenos naturais de destruição massiva, profecias que levam ao fim do mundo; é isso que mais temos visto na tela dos cinemas.

A questão é: Já não basta tudo que vem acontecendo pelo mundo e que vemos nos noticiários? A indústria cinematográfica realmente precisa continuar realizando produções com base neste assunto?

Há quem goste deste tipo de filme e não cabe a mim julgar, afinal, gostos não entram em discussão. Contudo, até mesmo estes devem admitir que esse tema já está ultrapassado , não pelo tempo – antes fosse – e, sim pela realidade que, cada vez mais, se aproxima da ficção.
Pois bem, 2012 está chegando e, apesar as brincadeiras feitas com esse assunto, o medo – não sei se seria a palavra correta – parece já estar instaurado em uma sociedade que parece perdida, esperando pelo fim e sem saber o que fazer.

O que deveria ser uma atividade de lazer coletivo, passa a ser um alerta e causador de pânico. E em você, essas produções causam impacto?

Como consumidora e adoradora de cinema, confesso que já cheguei ao meu limite de entrar em uma sala de cinema e assistir o fim do mundo pela visão de diferentes diretores que têm o apocalipse como clímax de suas histórias e diferenciam-se apenas pelo roteiro que seguem.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DOCUMENTÁRIO - A vida no lixão


Trabalho de Antropologia dos alunos do 2° períiodo de Jornalismo da Faculdade CCAA. Imagens produzidas e editadas pelos próprios alunos no trabalho de campo realizado no aterro sanitário de Jardim Gramacho (em Duque de Caxias), o maior lixão da América Latina.

IMPRESSÕES PESSOAIS
Confesso que estava com receio de ir pra lá e, de forma altamente fútil, não sabia sequer qual roupa eu deveria usar pra ir a um lugar como esse. Muitas vezes hesitei por esse tema, mas como o objetivo do trabalho é exatamente fazer passar a fase do estranhamento, aceitei e fui.

Chegando lá me senti em outra cidade, beeeem diferente da cidade maravilhosa como chamam o Rio de Janeiro, a começar pela distância da minha casa e dos lugares que freqüento, me deparei com um lugar totalmente fora da minha realidade, nesse momento o interesse pelo tema apareceu.

Fomos andando pelas ruas de bairro molhadas, com muitos entulhos, até mesmo dividindo espaço com porcos enormes que deitavam e rolavam nas grandes poças de lama. O mau cheiro que para mim era notável, para os moradores daquela área parecia normal, e cada vez menos eu conseguia me imaginar vivendo em um lugar assim.

Fomos entrevistando moradores, visitando casas, conhecendo histórias e me dei conta do quão desigual é a nossa sociedade. Enquanto uma criança recusa uma comida pelo gosto ruim, outra depende de que seus pais trabalhem arduamente e, literalmente, catando lixo para, quem sabe, conseguir pagar um leite especial do qual precisa para viver.

Pois entrevistamos uma família assim e eles nos contaram que quando a criança fizer 2 anos, o governo vai parar de fornecer o leite que a criança precisa. A questão é: como uma família de mais de 5 pessoas, vai pagar 60,00 em uma lata de leite se, muitas vezes, essa quantia é o que eles ganham em um mês e precisam sustentar a todos na casa?

Talvez, se todos passassem por uma experiência como a que eu passei, de sair da frente de TV, parar de ver as desgraças e as carências sociais do país de forma externa, e fossem lá, para ver de verdade como é a situação nesses locais, perceberiam que há algo de muito errado.

Deixo para vocês a reflexão!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Loucas experiências

Verão, férias, tempo de viajar e voltar com as malas abarrotadas de histórias sejam elas boas ruins, engraçadas e/ou bizarras. Você pode ir para uma praia, para um sítio, para uma cidade grande, uma cidade do interior, para um local onde neva, um local vazio, cheio, agitado, tranqüilo, mas e quando vamos ao contrário dos nossos gostos? Quando uma pessoa totalmente urbanizada vai parar em um local totalmente rural e/ou vice-versa?

Devo confessar que isso aconteceu comigo e não foi muito bom viver “no limite”. Saí de uma metrópole como é o Rio de Janeiro e fui parar em uma cidadezinha do interior do Nordeste, onde mal sabia que estava para viver uma das experiências mais ‘selvagens’ da minha vida. Sabe quando você passa por uma estrada rodeada de mato e só vê casinhas a cada 10km e se pergunta como existem pessoas que conseguem viver assim? Pois é, eu fui para uma dessas casinhas e, de verdade, admiro a coragem dessas pessoas. Em 3 dias que passei lá, descobri que tenho muito mais medo de insetos do que eu imaginava e que há quem viva normalmente com isso. Quando chegou ao ponto de eu abrir a janela para espantar uma mariposa, entrarem em casa mais quatro, ou ao ponto minha mãe ter matado um escorpião que estava perto de onde íamos dormir, foi realmente desesperador e – admito – engraçado aos olhos daqueles que são acostumados com isso.

E o hábito de matar os animais? Ah, quanto a isso você tem que tomar muito cuidado com o que diz, pois se por acaso você disser “que vontade de comer galinha”, minutos depois, com certeza, alguém vai aparecer com uma galinha recém-abatida para cozinhar para você (é normal dos moradores do interior fazerem de tudo para agradar alguém da cidade grande, é uma simpatia natural). Pode parecer cruel mas não critico os que matam os animais (logicamente, quando é para consumo), até porque alguém tem que matar para que aqueles que não são vegetarianos possam comer, mas não é estranho você estar comendo alguma coisa e pensar que cerca de uma hora atrás essa ‘coisa’ estava viva? Se isso nunca aconteceu com você, acredite, não é uma situação muito confortável.

Mas tudo é uma questão de costume - uma questão cultural – e no momento em que você se depara com uma cultura totalmente diferente da sua, o estranhamento é inevitável. Mas ele dá e passa e depois disso, sem perceber você adquire conhecimento e ainda fica com várias histórias para contar.

E vocês, que histórias trazem na bagagem?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Falso conservadorismo ou hipocrisia?

Um dos assuntos mais comentados no país, desde o dia 11 de janeiro, é a 11ª edição do reality show Big Brother Brasil. Como de costume, o programa reúne pessoas de diferentes cidades, idades, criações, e – de uns anos para cá – até mesmo, de diferentes opções sexuais.

Pois SIM, o Big Brother inovou e este ano, colocou pela 1ª vez na casa, uma transexual.

Segundo o site de pesquisa Wikipedia, transexualidade...

é a condição considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um tipo de transtorno de identidade de gênero, mas pode ser considerada apenas um extremo do espectro de transtorno de identidade de gênero. Refere-se à condição do indivíduo que possui uma identidade de gênero diferente a designado no nascimento, tendo o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. A explicação estereotipada é de "uma mulher presa em um corpo masculino" ou vice-versa.
... e segundo uma das maiores redes sociais dos últimos tempos – o Twitter – é um dos assuntos mais comentados no país, ou a protagonista desse assunto, Ariadna Thalia da Silva Arantes, a carioca cabeleireira de 26 anos.

A pergunta é: Com toda essa repercussão, por que será que ela foi eliminada do programa? O objetivo não é discutir se o programa é uma farsa ou não, mas interpretando-o como uma verdade, é bastante contraditório que o “Brasil” tenha eliminado do programa a pessoa que, desde o início, foi mais a comentada seja pelo fato de ser uma transexual, como por ter sido adorada pelo seu jeito de ser (sim, em pouco tempo de casa ela já tinha fãs).

E mais, foi eliminada perdendo em um chamado “paredão” para 2 concorrentes que até o momento estão como coadjuvantes na competição. Seria o “Brasil” em um momento conservador? Tendo como justificativa para o voto um preconceito que muitas vezes não admite possuir? Será que ela teria sido eliminada se - assim como as pessoas na casa até o momento em que ela saiu – não soubessem que ela é uma transexual e que já foi garota de programa?

É, dentre muitas palavras, engraçado, esse falso conservadorismo de um Brasil que se sente no direito de apontar, julgar e tirar do programa alguém que – pelo pouco que podemos saber da vida dela – é batalhador, e que mesmo com a rejeição da família e de muitas pessoas ao redor, lutou para construir uma vida.

E além de ironicamente engraçado, é um tanto hipócrita apontar um transexual e bater palmas para um bígamo (homem com duas mulheres) que aparece no final da novela das 8. Mas isso seria um assunto para outro texto...

Quanto à Ariadna, não defendo ou deixo de defender, mas não posso negar que admiro a coragem de expor dessa forma.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Seja bem-vindo ao meu mundo!

Depois de muito tempo até escolher o nome, Loucas Impressões parece encaixar direitinho com a ideia que eu tenho para este blog. Como estudante de jornalismo que sou, quero expressar minhas opiniões sobre tudo, assim como, trazer uma outra vertente de determinados assuntos.
Minha ideia é falar aqui dos assuntos da atualidade (seja qual for), não no intuito de convencer ninguém, apenas de mostrar uma visão, que talvez até haja quem se identifique.

Como todo e qualquer projeto, estou começando por baixo e espero crescer; nada como contar com a ajuda de quem recebe esta mensagem para participar ativamente disso.

Sugestões de assuntos são sempre bem-vindas, vamos debater, expor opiniões, abrir a cabeça para opiniões distintas e até, quem sabe, formas novas opiniões!

No fundo, tudo que temos são LOUCAS IMPRESSÕES!